13/01/2009

O DESAFIO DA CIDADANIA NO CENÁRIO DA GLOBALIZAÇÃO

Existe uma espécie de consenso de que o homem está à beira ou já vivendo um dos maiores conflitos existenciais em sua evolução histórica. Tal conflito é constituído pela dinâmica da preservação de suas raízes culturais e antropológicas e da massiva oferta de serviços e produtos ofertados pela tecnologia.

A questão ganha gigantescas proporções quando percebemos que, nesta pluralidade disponível no espaço de convivência humana, o que está em jogo é a noção de prazer e satisfação, que a tecnologia colocou de forma tão imediata e acessível à parcela considerável da população mundial, marginalizando, ao mesmo tempo, milhões de pessoas. A coisificação da pessoa humana, tanto daqueles que podem e consomem em excesso, quantos daqueles sem capacidade de consumirem produtos e serviços típicos da era global, é fenômeno nítido na sociedade contemporânea.

Ao mesmo tempo, examinar o significado da expressão cidadania pode apontar para alternativas e caminhos novos, pelos quais a sociedade humana pode descobrir a si mesma e, desta forma, descortinar sua real dimensão como povo e de cada um enquanto pessoa.

Cidadania é algo maior do que exercício de direitos e deveres por parte de uma população em uma ordem democrática. Cidadania não se resume a eleger e ser eleito, a ir e vir, a expressar pensamentos e idéias. Cidadania implica, acima de tudo, a expressão da alma humana, no pleno exercício de suas idéias e convicções, no experienciar de suas inspirações e intuições, de forma plena. E as condições sociais para esta qualidade de expressão humana ainda estão muito longe de serem contempladas no mundo, principalmente nos países subdesenvolvidos, mesmo os industrializados.

Mas o tipo de controle e manipulação da ciência e tecnologia que está sendo exercido sobre o mundo, subjugando e utilizando pessoas como objeto de lucro, impõe uma resposta desta mesma sociedade usada e subjugada. A valorização da cultura, enquanto expressão das peculiaridades e idiossincrasias de um povo, ou seja, o olhar de um povo para si mesmo, é uma das chaves para a sua autodescoberta e, desta forma, de vislumbrar alternativas para uma sociedade mais justa e fraterna, na qual a tecnologia esteja a serviço do espírito humano, de sua realização. É, portanto, uma questão política que cada país deve buscar implementar: a humanização da sociedade humana.


*Alberto R de Barros
Professor de Geopolítica do Colégio Apogeu
Publicado no Informe Apogeu, Ano 2, Edição 2, Outubro/2006.

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