13/05/2009

SURTO - Artigo publicado no Jornal Tribuna de Minas de 12/05/2009

Surto

Alberto Rodrigues de Barros
Colaborador

Episódios como este de ampliar o número de parlamentares evidenciam que vivemos um surto esquizofrênico paralelo ao da gripe suína. Pois estamos em tempos de crise mundial, e a mesma se revela rara oportunidade de revisão de valores, de práticas de consumo e de melhorias na gestão dos recursos da sociedade, notadamente a gestão dos recursos públicos.

E o parlamento brasileiro, em seus três níveis de atuação, federal, estadual e municipal, já nos deu suficientes provas de que está devendo grandes doses de qualidade em sua atuação em prol da cidadania, da ética e dos interesses nacionais.

A classe política brasileira reedita em nossas terras o fenômeno de distanciamento dos cidadãos-eleitores como ocorre em vários países, inclusive nos desenvolvidos. Mas a diferença é que aqui o eleitor é passivo no exercício de sua cidadania, fato que amplia ainda mais a distância do político do seu eleitorado.

A declaração recente do deputado federal Sérgio Moraes (PTB-RS), que ocupa nada mais nada menos do que a função de relator do processo de cassação no Conselho de Ética do deputado Edmar Moreira, de que está se lixando para a opinião pública é, por si só, sinal claro de como o eleitor é visto pelos políticos em nosso país.

Os parlamentares deveriam ser cobrados pelo povo para melhorar sua qualidade parlamentar, e este não deveria reeleger políticos deste tipo de perfil. Ao mesmo tempo, os próprios parlamentares deveriam assumir que sua imagem perante a opinião pública - que, por sinal, é a que mais importa - está péssima e jamais deveriam lutar para ampliar o número de vereadores, pois isto, obviamente, significa aumentar os gastos públicos, sem qualquer garantia ou possibilidade de melhoria da atuação parlamentar.

A crise está deixando claramente exposta uma lição básica que a dona de casa, há muito, já pratica. Só se gasta o necessário e com aquilo que é capaz de fazer diferença, seja na alimentação ou no ambiente doméstico. Por que não aplicarmos esta tão básica receita aos políticos brasileiros?

Assim, é uma afronta, uma agressão, um desperdício absurdo aumentar o número de parlamentares, uma vez que não se trata de uma decisão com lastro na moral e na ética, mas baseada em uma decisão de natureza corporativa, pois os acordos políticos não refletem os interesses da maioria desfavorecida e da sociedade em geral - na verdade, dão garantia de influência clientelística e fisiológica entre os políticos carreiristas, sempre de olho nas próximas eleições.

Que a sociedade se mobilize para a saída do deputado que não se sensibiliza pela opinião pública e para a manutenção do número de vereadores, pois, se a classe política sobrevivesse de seus próprios recursos, com certeza, a luta seria de diminuir e não aumentar o número de representantes da ineficiência, ineficácia e inefetividade.

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