11/09/2011

Pensar a partir do Ser Interior

Amanheci lendo uma pérola de originalidade humana. O texto Internet: Ditadura ou Democracia, do consultor de marketing William Barter, é magnífica oportunidade ofertada pelo autor para escutar o som das suas ideias, pois é exatamente no intervalo precioso delas, como nos inspira Rubem Alves em seu texto Escutatória, a perceber que algo precioso acontece quando estamos em certas condições. 

"Diz Alberto Caeiro que... não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia. Parafraseio o Alberto Caeiro: Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí a dificuldade..."

E aqui parafraseio a ambos, pois não basta ter olhos e mente para ler e entender, seja nos livros, seja pelas ideias veiculadas pela internet. É necessário observar os intervalos entre as ideias, sejam estas veiculadas por que meio for. Pois os intervalos são as oportunidades de emersão do Ser através de emanações originais, nascidas da mais pura essencialidade humana e divina.

William, através de sua sensibilidade, soube trazer à tona distinção entre o valorizar a necessidade de pensar e o saber das informações enquanto fenômeno fundamental. Distinguir entre o que é informação enquanto repetição da criação e a idéia enquanto a arte de criar através da expressão do pensar é precioso para a humanidade, para os jovens e para o parto deste novo mundo que você se refere e que também percebo em claro processo de maturação.
 

E a primeira reação surgida após a leitura do texto foi exatamente a noção de como é mágico pensar, ousar pensar, ousar transcender o pensamento, ousar Ser.

E este pensar não é aquele produto da mente que produz segundo suas referências absorvidas do que é apresentado nas redes ou nas revistas ou no mundo externo.

Falo do pensar que provém do Ser mais profundo que percebo existir em mim e, quero crer em todos. Leonardo da Vinci foi muito feliz quando disse que a força humana mais poderosa é a imaginação. E que todo pensamento origina-se do sentimento. E percebo que este sentir de Da Vinci é algo que congrega a genialidade e a originalidade humana em todo o seu esplendor.

E o imaginar é exercício que vai além da mente comum. É aventura rumo ao desconhecido, aos territórios virgens da ausência do próprio processo mental de pensar ou dos parâmetros mais comuns do pensamento cartesiano, enquanto resultantes de elaboração ou reelaboração de referências preliminares. É romper os padrões do pensar científico e dar espaço para o pensar da alma ou a partir dela, das profundezas do Ser.

Quando se pensa a partir do Ser algo meio milagroso acontece, pois conseguimos experienciar uma profusa emanação de emoções, percepções, sensações, intuições e descobertas que perpassam o comum e abrem novas possibilidades do existir humano, onde a comunicação entre as pessoas se estabelece em novos patamares de identidades, onde a alegria de viver é celebrada de forma mais densa, criativa e celestial.

Neste cenário de espaços livres das amarras do já conhecido, o humano descobre que a liberdade e a democracia para escolher em todos os níveis da vida é algo muito mais prazeroso do que consumir produtos, serviços e prazeres, aqui se identificando a ditadura de comportamento coletivo padronizado.

O exercício do pensar a partir do Ser Interior permite uma reestruturação, releitura, reorganização, retomada e quantos outros “rês” formos capazes de alcançar, transcendendo a mesmice de seguir padrões de saberes veiculadas como verdades a serem praticadas, sem que o individuo, de fato, ouça a voz de sua razão interior para dirimir saberes, pensamentos e caminhos a serem desfrutados no exercício de sua própria vida.

A alegria da democracia do experienciar do silêncio da voz e do pensamento, como citado por Rubem Alves, que o pianista vivencia antes iniciar a execução da obra de um outro criador, é o momento que ele vai vivificar e criar o seu original olhar de uma obra já criada, e que irá agregar o seu sentir e viver a obra do outro, porém com sua assinatura pessoal e intransferível nascida do seu Ser Interior.

A magia de esvaziar a alma para receber o que vem de fora e, prioritariamente, o que vem de dentro de cada um de nós, é algo que nos confere a individualidade de criar consciências, de avançar para compreender o evidente e intuir o que ainda está oculto, é oferecer espaços de carinho e de respeito ao semelhante, de receber o outro em nossas vidas como originalidade de vida igual a si mesmo, promovendo assim a autêntica pororoca da humanidade que pode prover a nossa carência de pensadores.

Quando ocorre o encontro de pessoas que se expressam a partir do Ser Interior de cada uma delas, o mundo se transforma. As cores assumem mais densidade, os sons e a própria voz dos interlocutores assumem o indescritível papel de serem veículos de expressão de Vida, a apreciação das idéias originais de cada um e de pensadores, filósofos e escritores são revigorados, a criatividade e o imponderável são compartilhados de forma mais saborosa. E neste ambiente, de sincera entrega humana, o pensamento evolui, o conhecimento avança, a pesquisa inova e descobre (ou redescobre) e as conquistas humanas não perdem o essencial: sua especificidade de serem realmente humanas.

Ontem mesmo, ao participar como padrinho de casamento de um grande amigo e de sua linda esposa, conheci alguém que se expressa a partir do Ser. E não demorou muito tempo para que estivéssemos em verdadeira confraternização de vida. Caminhos percorridos, experiências vividas por cada um e conquistas adquiridas na lavra das dores e no sabor das alegrias, inspira a perceber que o fenômeno humano da amizade foi parido ali mesmo e, caso acreditemos em nossas intuições, um músico e um candidato a educador, podem criar e expressarem suas originalidades, trazendo mais humanidade através da alegria de estarmos vivos. E possivelmente, expressando esse material original em pensamentos, momentos e produções absolutamente humanas e, que porque não ousar dizer, em autênticos milagres de vida, é possível contribuir para a alegria, a educação e bem estar das pessoas, numa humanização peculiar e original.

E a novidade é que tal fenômeno pode ocorrer a qualquer um de nós, em qualquer espaço de tempo e lugar, pois o Ser Interior perpassa o tempo e as condições materiais. Basta ser cultivado e celebrado por cada interessado em ser o melhor que puder ser. E pode ser a partir do Agora.

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