23/08/2011

PROVISÓRIO

A minha relação com a Dança Contemporânea se confunde com a amizade verdadeira entre pessoas, de seres que se gostam de verdade, no melhor estilo humano.

Sylvia Regina Rehe, amiga e professora deste estilo questionador, foi quem, ao longo dos anos, inciou-me nos caminhos que me levaram a conhecer estilo.

No início surpresa, incompreensão, perplexidade. A seguir, curiosidade, emoção, desafio, novidade, intensidade, densidade, criatividade e descoberta.

Assisti várias apresentações, sempre convocado ou intimado pela Sylvia, Tuca. E aos poucos, transcendendo os valores instalados na mente, fui desburocratizando a percepção bem naturalmente e, de certa forma, sem mesmo perceber.

E hoje, na verdade, neste domingo, algo genial se passou ao assistir Provisório, de Milene Pimentel.

E esta genialidade experienciada tentei traduzir nas palavras a seguir.

E só tenho a dizer, obrigado, obrigado, obrigado.

Para Sylvia e seu Inércia Zero, que conta também com Ricardo e Léo, a quem rendou minhas sincera homenagens por tantos bons momentos de reflexão, inflexão e flexão, além de aprendizagens e percepções.

E agora, Milene Pimentel que com seu Provisório, parece inaugurar em mim o Permanente desafio de assistir a Dança Contemporânea, o desafio de senti-la em sua plena provocação e tentar, e já sem que sem conseguir, expressar seu significado mais pleno.



PROVISÓRIO AGOSTO

Milene, eu adoro a dança e a partir deste tanto gostar e da minha tentativa de visão de educador é que expresso como vivenciei o Provisório.

Inicialmente, o impacto do cenário com o elemento jornal proporcionado a ideia de uma moldura para a dança em si.
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O jornal é uma linguagem que traduz do existir de um tempo, do tempo e ao longo do tempo. Este é o tempo do agudo movimento, da intensidade do acontecer e da densidade do deslocamento.

Tudo está muito significativo. E sob pressões nem sempre tão significativas como trazidas pelo jornal que, também estando cobrindo o chão do palco e que foi pisado e rasgado, expressa a possibilidade de se reescrever a vida sobre os fatos já vividos. E isso é genial. Sugere a permanente ação do homem de organizar e reorganizar sua vida, com a mudança de posição no cenário, e isso é pura vida.

O sincronismo do passo revela a possibilidade do agir em grupo e harmonia, ao mesmo tempo em que a inventividade do passo de cada um esteve preservada, lembrando que a identidade é algo essencial, pois está o original que existe em cada um de nós.
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Provisório revela a transitoriedade da vida pelos passos em evolução no espaço, onde a realização pode não estar completa em si, mas nem por isso existe menos vida neste contexto.

Provisório comunica que sempre é possível o apreciar do movimento estético, sem crítica ou censura, deixando livre a expressão da intuição neste mundo tão previsível de padrões e comportamentos.

Provisório é o encontro de estilos e de bailarinos de diferentes idades de forma madura, todos construindo um acontecer de expressão do exercício da vida, de forma simples e consistente. Todos jovens que se agigantaram e que deram um colorido muito especial.

A reflexão de comportamento e de atitude sugerida pode incomodar todo aquele que está “consciente” que vivemos num tempo de organização e reorganização permanentes.

 E este movimento presente no elemento é convite para sairmos da zona de conforto e atuar mais e melhor, de ser um e, em sendo um inteiro, é humano estar ao lado do outro, fazendo o lindo mosaico coletivo da expressão humana no desafio da contemporânea existência.

Os bailarinos e o figurino deram riqueza e mais vida a vida refletida e reflexionada, pois também tivemos teatro e muita representação. Voz e expressões!

Simplicidade, objetividade, beleza, leveza e reflexão!

Adorei o Provisório Agosto, pois ele deixou aquela saborosa vontade de quero mais, de muito mais.

Parabéns a todos!

O interessante é que as palavras, em várias oportunidades, não conseguem traduzir tudo que o ser é capaz de captar na experiência vivenciada. E realmente não alcança mesmo, pois parece que fica algo sem ser abordado.

A sensibilidade esteve presente.
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Na escolha do cenário, dos dançarinos, da coreografia, dos detalhes, nos movimentos, nos passos e mudanças de ritmos.

E não esquecendo a sonorização que sugeriu o inusitado, o desafio de ser contemporâneo de si e em si mesmo, junto com o outro, sons que provocaram a imaginação do que iria acontecer.

Sons que nos rodeiam, nos embalam no dia a dia e que nem sempre nos damos conta. Parabéns, Fred Fonseca, este talento e virtuoso humano, da música, das notas, dos instrumentos e possuidor de profunda sensibilidade e alegria.

E já aguardo a próxima criação.

Beijos na alma.

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